30 junho 2009

Magna Conceição - Alimentação do Idoso com Alzheimer

0 - Introdução

Neste trabalho vou falar um pouco sobre doentes de Alzheimer e como podemos ajudá-los na alimentação numa fase mais avançada da doença. Este trabalho foi pedido no âmbito da avaliação do Módulo “ Alimentação da Pessoa Idosa em lares e Centros de dia,” serve para nós aprendermos um pouco mais sobre algumas doenças que para muitas famílias no geral são um “tabu”, só quando se deparam com as dificuldades de um familiar doente é que se preocupam em saber mais informações da doença.
Este tema aborda de forma muito breve alguns dos problemas com que familiares ou cuidadores se deparam no dia-a-dia.


1 - Mal de Alzheimer

O Mal de Alzheimer, ou Doença de Alzheimer ou simplesmente Alzheimer é a forma mais comum de demência. Esta doença degenerativa, até o momento incurável e terminal foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, de quem herdou o nome. Esta doença afecta geralmente pessoas acima dos 65 anos. Cada paciente de Alzheimer sofre a doença de forma única mas existem pontos em comum, por exemplo o sintoma primário mais comum é a perda de memória. Muitas vezes os primeiros sintomas são confundidos com problemas de idade ou de stress. Com o avançar da doença vão aparecendo novos sintomas como confusão, irritabilidade e agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e o paciente começa a desligar-se da realidade. As suas funções motoras começam a perder-se e o paciente acaba por morrer.


2 - Dez sinais de alerta ou sintomas comuns da doença

1.perda de memória
2.dificuldade em executar tarefas domésticas
3.problemas de linguagem
4.perda da noção do tempo e desorientação
5.discernimento fraco ou diminuído
6.problemas relacionados com o pensamento abstracto
7.trocar o lugar das coisas
8.alterações de humor ou de comportamento
9.alterações na personalidade
10.perda de iniciativa



3 - Como prevenir que surjam crises de agressividade?

• Não seja demasiado exigente com a rotina diária do doente;
• Deixe que o doente faça o que ainda lhe é possível fazer, ao seu ritmo, sem pressas e sem exigir a perfeição;
• Não critique, antes pelo contrário, elogie (mas não exagere);
• Ajude, mas de forma a não parecer estar a dar ordens;
• Procure que o doente faça actividades que lhe interessem;
• Assegure-se de que o doente faz exercício físico suficiente;
• Esteja atento a sinais que possam indiciar crise iminente e procure distrair a atenção do doente.


4 - Alimentação em doentes de Alzheimer

Na maior parte dos países desenvolvidos a Doença da Alzheimer (DA) é responsável por 70% dos casos de demência, atingindo três milhões de pessoas na Europa. Com base no censo de 1991 e de acordo com a prevalência europeia, estimou-se que haveria em Portugal cerca de 50 000 doentes de DA e, com base numa projecção para 2010, que haverá, então, 75 000 doentes. A DA é uma doença neurológica degenerativa e irreversível, tendo uma evolução progressiva e insidiosa. As manifestações que apoiam o diagnóstico de provável DA, de acordo com a classificação semiológica americana DSM-IV, são os défices cognitivos múltiplos manifestados por diminuição da memória (diminuição da capacidade de aprender nova informação ou de recordar informação previamente aprendida) e duas (ou mais) das seguintes perturbações cognitivas: afasia (perturbação da linguagem); aprazia (diminuição da capacidade para desenvolver actividades motoras apesar de a função motora permanecer intacta); agnosia (incapacidade de reconhecer ou identificar objectos apesar de a função cerebral permanecer intacta); perturbação da capacidade de execução (isto é, planeamento, organização, sequencionamento e abstracção). Os défices determinam inicialmente perda de capacidade em realizar de forma independente as actividades instrumentais da vida diária, surgindo progressivamente diminuição da capacidade de realização das actividades de vida diária até à completa dependência. A alteração do estado nutricional é um traço comum frequentemente observado durante o curso do processo demencial. A perda progressiva associada a uma fusão preferencial da massa gorda é assinalada num grande número destes doentes, particularmente em estádios avançados da doença. Poucos dementes são obesos; a maior parte é magra, mesmos esqueléticos. Esta deterioração do estado nutricional agrava o estado de saúde destes doentes, pois tornam-se mais frágeis, menos resistentes às infecções e menos independentes e autónomos e aumenta o encargo de quem os acompanha.


5 - A alimentação: elemento crítico nos cuidados

Paralelamente ao declínio cognitivo nos indivíduos com DA ocorre o declínio da capacidade em efectuar as Actividades de Vida Diária (AVDs). A progressão da deterioração intelectual diminui a capacidade para efectuar as actividades de auto cuidado. Habitualmente esta evolução tem início em actividades que requerem maior capacidade intelectual, como gerir dinheiro ou conduzir, progredindo para as actividades mais básicas como a higiene e a alimentação Para se alimentar, o doente tem que ser capaz de se concentrar, comunicar e desempenhar as actividades necessárias para concretizar as tarefas. Nos estádios iniciais as alterações da memória, julgamento pobre e aprazia predispõem o doente a ter dificuldades em manter a independência na alimentação; nos estádios tardios da doença são as condições neuromusculares e comportamentais que causam mais dificuldades. A avaliação das alterações na capacidade funcional fornece informação essencial para a área assistencial (planear actividades que previnam a perda de função ou mantenham a capacidade de se auto cuidarem) e para a investigação como forma de monitorizar a progressão da doença. Para os doentes e seus cuidadores, o declínio funcional pode ser um aspecto problemático da Doença de Alzheimer dado que a perda de capacidade para realizar as pequenas tarefas diárias aumenta a necessidade de cuidados.


6 - Capacidade funcional na alimentação

As alterações da visão espacial, a dificuldade em localizar os alimentos, a baixa capacidade de atenção e de concentração aliada a agitação nas horas da refeição perturbam a capacidade para iniciar ou efectuar uma refeição completa. Frequentemente verificamos que se esquece que é tempo de comer ou não reconhece o sinal de fome ou, ainda, que não reconhece os alimentos. Frequentemente a agnosia visual manifesta-se no facto de a pessoa não comer porque é incapaz de reconhecer os alimentos; bem como não utilizar os utensílios porque não sabe o que fazer com eles, mas respondem correctamente quando o cuidador orienta verbalmente ou imita o gesto. A aprazia pode surgir desde o estádio inicial. Os doentes podem ter necessidade de ajuda de mão-na-mão para iniciar ou completar as tarefas. Por exemplo, o talher deve ser colocado na mão e se o doente não inicia o procedimento, o cuidador deverá com a sua mão-na-mão guiar o movimento. Quando a acção está a decorrer, o cuidador pode retirar a sua mão e orientar dando uma ordem verbal. A perda da capacidade para utilizar utensílios surge em consequência de alteração cognitiva e alteração motora. Quando sentado à mesa para comer, pode ter dificuldade em reconhecer os utensílios e lembrar-se como usá-los. O doente com aprazia pode não conseguir efectuar os movimentos necessários para comer, como por exemplo encher a colher no prato e conduzi-la à boca e poderá ser mais fácil utilizar os dedos. Nestas situações é importante que o doente tenha a possibilidade de o fazer para se alimentar de forma independente. Frequentemente não reconhecem quando é que terminam de comer. A pessoa esquece-se que está a comer e abandona a refeição antes de a terminar. Quando a aprazia se agrava, os pacientes progressivamente deixam de se alimentar a si próprios e requerem ajuda de outros. Numa fase mais avançada, os reflexos primitivos podem interferir com o acto de comer, provocando a sucção da colher, progredindo para a dificuldade em mastigar e deglutir podendo a pessoa engasgar-se com alimentos líquidos ou sólidos e há risco de aspiração. A orientação verbal, utilizando frases curtas e simples, ou não verbal são fundamentais para a realização das tarefas nas pessoas dementes.


7 - Comportamentos associados à alimentação

Alterações de hábitos na alimentação são factos muito frequentes nos doentes de Alzheimer. Os menos dementes exibem apenas alterações mínimas nos hábitos alimentares, especialmente relacionadas com as regras sociais da alimentação em que os modos, aceites socialmente, de estar à mesa se deterioram. A resistência em se alimentar manifestada por recusa verbal, voltar a cara à colher, empurrar os alimentos ou o cuidador, tapar a boca, cuspir os alimentos e recusa em ir para o local onde é habitualmente alimentado podem ser consequência de vários factores como a anorexia, o não reconhecimento da fome, resistência aos cuidados ou não interpretação correcta da situação ou ainda, sinal de depressão. Em consequência de juízo crítico pobre e alteração do raciocínio e pensamento lógico, estes doentes podem comer produtos não comestíveis, beber líquidos perigosos ou serem incapazes de distinguir alimentos que se encontrem impróprios para comer. A aprazia e a agnosia determinam que os doentes por vezes tenham que ser mimados para comer, misturem e brinquem com os alimentos e falem continuamente durante as refeições de modo que não comem.


8 - Como ajudar o doente a alimentar-se?

• Sente o doente com o tronco bem direito e a cabeça firme;
• Se necessário, ponha-lhe um grande guardanapo só para comer;
• Não tagarele com o doente durante a refeição;
• Aguarde que a boca esteja vazia para fazer alguma pergunta;
• Dê-lhe tempo para comer tranquilamente e não o contrarie se ele quiser comer à mão;
• Dê-lhe bocados pequenos de alimentos sólidos; por vezes, o doente poderá preferir alimentos passados ou batidos;
• Faça-o mastigar bem e assegure-se de que a boca permanece fechada durante a mastigação e a deglutição. Verifique se há restos de alimentos na boca;
• Pouse-lhe a chávena ou o copo, depois de cada gole, fazendo uma pausa. Note que dar-lhe de beber é muitas vezes difícil;
• Deixe-o deglutir uma segunda vez, se alguns alimentos ainda estiverem na boca;
• Lave-lhe cuidadosamente a boca depois de cada refeição para evitar que restos de alimentos passem para os pulmões. Com uma gaze húmida, limpe-lhe o interior das faces. Use uma pasta dentífrica infantil;
• Deixe o doente sentado durante 20 minutos após a refeição.


9 - Ambiente durante a refeição

Os factores ambientais estão ligados aos cuidados e dependem fundamentalmente das pessoas que os prestam. O ambiente durante a refeição tem influência na independência funcional e na motivação do doente em se alimentar, podendo constituir um factor positivo/negativo na manutenção do estado nutricional satisfatório. Sendo a distracção uma característica, é importante manter no local o nível de ruído de fundo baixo, evitar interrupções durante as refeições e o cuidador estar atento às necessidades do doente. A iluminação adequada deverá estar assegurada dado que a eventual existência de dificuldade discriminação do fundo – figura e percepção do contraste da cor será agravada num ambiente em penumbra ou com luz que provoque encandeamento. O posicionamento deverá ser facilitador da tarefa pelo que o doente, a refeição e a superfície de apoio devem estar posicionados correctamente, ou seja em frente e perto da pessoa. O sucesso de uma refeição completa depende em boa parte da qualidade da relação do cuidador com o doente. A partilha da refeição, o toque, o tom afável da fala, o sorriso e o posicionamento do cuidador face a face com o doente promovem a interacção e favorecem a ingestão. A dificuldade em reconhecer e utilizar adequadamente os utensílios faz com que os doentes utilizem as mãos para comer, o que constitui ainda uma forma de autonomia e fonte de prazer que não deve ser cortada. A adaptação dos utensílios e da forma de apresentação dos alimentos permite evitar a dependência. O tempo para a execução da tarefa deve respeitar o ritmo do doente e este não deve ser apressado ou substituído na tarefa, que conduz frequentemente ao insucesso de uma refeição e, se ocorre sistematicamente, à perda de independência.


10 - Conclusão

Com esta pesquisa e estudo sobre Alzheimer, aprendi que os doentes com estas patologias têm necessidades e cuidados especiais, tanto a nível físico como psicológico. São pessoas com constantes mudanças de humor, pequenos esquecimentos, troca de lugar de objectos, que faz com que se sintam desorientados mesmo no seu meio ambiente. Na maior parte dos casos e numa fase mais avançada da doença perdem a lucidez, deixando todas a memórias no esquecimento, perdendo a capacidade de reconhecimento dos familiares mais próximos. Acho que a minha pesquisa fica um pouco aquém daquilo que esperava, ainda existe pouca informação sobre esta doença, os sites que pesquisei contém pouca informação e todos falavam das mesmas coisas, uma das coisas que não consegui encontrar em grande quantidade são os utensílios adaptados a pessoas com problemas especiais, que muitas pessoas desconhecem existir.

11 - Referências:

http://advita.pt/index.php?id=18,0,0,1,0,0
http://pt.wikipedia.org/Wiki/Mal_de_Alzheimer
http://www.mini-saude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/doenças/doenças+degenerativas/dezsinaisdealertadadoencadealzheimer.htm
http://seniorstore.es/index.php?page=shop.browse.&category
http://www.mini-saude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/doencas/doencas+degenerativas/recomendacoesparaquemcuidadodoentedealzheimer.htm